Eliseu Queres

Sobre

Fonte: Ponte

Elizeu dividia sua moradia com o irmão, Enoque Queres, na estrada que beira a fazenda, local onde vivem inúmeras pessoas atualmente, após 200 famílias serem despejadas da fazenda devido a um mandado de despejo emitido pela juíza da Vara Agrária de Cuiabá, no ano passado.

O Assassinato

The first agrarian conflict of 2019, already under the new government of Jair Bolsonaro, took place last Saturday 25th January, in Colniza, Mato Grosso, 1,065 km from Cuiabá. The attack on Fazenda Agropecuária Bauru, known as Fazenda Magali, belonging to the family of former state deputy José Riva (PP), culminated in the death of bricklayer Eliseu Queres, 38, in addition to leaving eight people injured – three of them in serious condition.

Enoque define seu irmão como uma pessoa simples e resume tudo o que aconteceu como um ato de covardia. “Meu irmão era simples. Trabalhava em construção. Não tinha maldade nenhuma. Era tranquilo, com um coração enorme, cheio de amigos”, lembra. Respira fundo, e segue. “Foi covardia o que fizeram com ele. Não tinha motivo pra atirar, não tinha ninguém armado”.

Segundo Enoque, o grupo estava pegando água no rio Traíra que corta a fazenda, único lugar possível de se obter água para os que vivem na estrada. Foi nesse momento que os seguranças renderam dois deles. “Meu irmão foi com outras pessoas tentar conversar e pedir para que soltassem eles, eu continuei caminhando com o restante do pessoal e de repente começaram os tiros. Infelizmente, quando eu pude me aproximar meu irmão já estava morto”, conta.

A Empresa Unifort, contratada para fazer a segurança da área, informou à imprensa que um grupo de seguranças sofreu uma emboscada e foi surpreendido com disparos de arma de fogo, que atingiram o carro empregado pela equipe para realização de rondas. Além disso, a empresa afirma que as pessoas estavam munidas de foices e facões.

Em nota à imprensa, o ex-deputado Riva lamentou o ocorrido, disse que teme pela vida de todos os envolvidos e afirma que os seguranças reagiram aos posseiros. “Infelizmente [os seguranças] sofreram uma emboscada realizada por terceiros, fortemente armados, que atentaram contra a vida dos seguranças e empregados da fazenda”, explicou Silval

A Investigação

Testemunhas afirmaram que os posseiros estavam desarmados. A Polícia Civil encontrou apenas fragmentos de bala das armas usadas pelos seguranças. De acordo com órgão, as pessoas estavam alojadas a cerca de 5 quilômetros dos limites da propriedade e na ocasião do conflito estavam em uma estrada de chão que corta a fazenda. “No sábado, quatro seguranças foram autuados por um homicídio e nove tentativas. Eles foram liberados após decisão judicial na noite de domingo (6/1). Por conta de boatos que poderia haver linchamento dos suspeitos, no ato de soltura, foi realizado acompanhamento pela Gerência de Operações Especiais (GOE), da Polícia Judiciária Civil, até a cidade de Juína, visando à integridade física dos seguranças”, afirmou o órgão, via assessoria de imprensa.

O assassinato, segundo a CPT era uma tragédia anunciada. Uma nota, publicada em novembro do ano passado, pela CPT e o Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso, alertava sobre a gravidade da situação que se estabelecia na região da fazenda e que um massacre poderia acontecer caso nada fosse feito. Embora não tenha ocorrido outras mortes no sábado, o ataque traz à memória a chacina que ocorreu em 2017, onde nove trabalhadores rurais foram torturados e mortos em Taquaruçu do Norte, zona rural da cidade.

Elizabete Fatima Flores, advogada e coordenadora regional da CPT, explica que o conflito perdura desde 2000, e define todos esses anos de tratativas entre os possíveis donos do terreno e as pessoas que lutam por moradia como um período de crueldade perpetrado pelo próprio Estado que ainda não determinou uma solução viável. “A situação é complexa. A gente tem fortes indícios de que ali ocorreu grilagem de terra. Inclusive, protocolamos e cobramos da Advocacia Geral da União que ela entre com a anulação dos títulos, porque na época as constituições vigentes falavam que o Congresso deveria aprovar a aquisição de terras acima de 2.500 hectares, e lá há títulos acima disso que não foram aprovados”, explica.

Para mais informações AQUI

Autor: Leandro Barbosa


Se quiser enviar uma recordação pessoal, favor nos enviar por e-mail: HRDMemorial@frontlinedefenders.org

Região:Américas

País:Brasil

Departamento/Província/Estado:Mato Grosso

Gênero1:Masculino

Idade:38

Data da morte:25/01/2019

Ameaças Anteriores:Sim

Organização:Rural Worker

Setor ou Tipo de Direitos que o/a DDH trabalhava:Direitos ESC

Detalhes do Setor:Direito à terra, Direitos laborais

Maiores informações:Front Line Defenders

1Essa base de dados registra a opção de gênero. Caso eles/as não se identifiquem com o gênero masculino ou feminino, eles/as podem utilizar a opção de registro ‘outro/nenhum’ ou utiliizar o termo IGNB (identidade de gênero não binária).