“Relatos de uma tragédia anunciada no Pará” é o título dado à nota pública divulgada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre a morte de Ronair José Lima. As palavras não poderiam ser outras. O Presidente da Associação Terra Nossa havia já sido alvo de várias ameaças e uma tentativa de homicídio. O seu assassinato é, pois, um triste marco já anunciado na sangrenta história da defesa dos direitos humanos no Brasil.

São Félix do Xingu é um município do estado de Pará que é tão vasto quanto a Áustria e onde se encontra a maior concentração de gado bovino do Brasil. É um município com vastas terras e onde uma reforma agrária, há muito ansiada, parece longe de se concretizar. Já vários agricultores na área perderam a vida ao defender o seu direito à terra. Ronair foi um deles.

Dia 27 de Fevereiro de 2016, o trabalhador rural, a sua mulher e a sua filha foram atingidos a tiro enquanto se dirigiam de mota para uma reunião da Associação de Trabalhadores no município de São Félix de Xingu. Sobreviveram os três e, também, a causa. O agricultor e defensor dos direitos humanos continuou a lutar pelos direitos dos trabalhadores rurais, até que, a 4 de Agosto do mesmo ano, os tiros com que o surpreenderam três fazendeiros numa emboscada numa estrada próxima do acampamento Novo Oeste foram fatais. Ronair José Lima, com 41 anos, ainda conseguiu procurar auxílio e receber ajuda médica na sede do município, contudo, as palavras que o Irmão que o acompanhou ouviu, no edifício hospitalar, foram duras, as mais difíceis de aceitar: “Ele morreu”.

Ronair agia na defesa do direito à terra de famílias ligadas à Federação dos Trabalhadores da Agricultura (FETAGRI) que ocupam parte do Complexo Divino Pai Eterno, terras com cerca de 9 mil hectares pertencentes à União. O conflicto existe porque vários fazendeiros reivindicam o espaço, alguns deles recorrendo à violência na tentativa de expulsar os agricultores lá acampados. Ronair, defensor do direito à terra com aspirações políticas, era visto pela comunidade de trabalhadores rurais assentes no complexo de terras públicas como um exemplo a seguir, alguém cujos ideais eram comuns a um povo e a uma luta. Líder da associação de agricultores da área (Associação Terra Nossa), era quem reunia com o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), a CPT e os diversos órgãos envolvidos na questão das terras em busca de um acordo.

Amigos, membros da comunidade de agricultores, todos acreditam que a melhor forma de vingar a morte de Ronair é não desistir da sua luta. No Brasil, em particular, e um pouco por todo o mundo, o assassínio de defensores de direitos humanos é uma realidade presente e persistente que não deve ser ignorada.