João Natalício Xukuru-Kariri, ou Seu João, como era calorosamente chamado, era um líder indígena do Nordeste do Brasil que defendia há muitos anos o direito do seu povo às suas terras ancestrais.
Respeitado e admirado por muitos, no dia anterior à sua morte, Seu João participou na abertura do II Seminário Pedagógico: A Caminhada dos Guerreiros e Guerreiras Xukuru-Kariri, numa homenagem a Maninha Xukuru-Kariri, importante defensora da identidade cultural que faleceu em 2006. No evento, que incluía círculos de debate com jovens indígenas acerca da conjuntura política e da questão territorial, Seu João falou com emoção da companheira indígena e da luta fundiária.
O defensor de direitos humanos perdeu a vida na madrugada do dia 11 de Outubro de 2016, à porta de sua casa, na Fazenda Canto, terra Indígena Xukuru-Kariri, localizada a 7 quilómetros da cidade de Palmeira dos Índios, Alagoas. Dois homens, ainda não identificados, terão atacado com facas e armas de fogo Seu João.
A região tem, como explicou outro líder Xukuru-Kariri ao Conselho Indeginista Missionário (Cimi), “um histórico de violência por conta da luta pela terra”, dado que o processo de demarcação da terra indígena em Palmeira dos Índios se tem vindo a arrastar por mais de duas décadas e, em 2013, foi suspenso o levantamento fundiário.
Membros do Cimi realizaram uma entrevista a Seu João em 2014 e revelaram, já após a sua morte, algumas das características singulares do líder: “[Seu João] fez questão de conversar apenas depois de fazer um café, enrolar um cigarro e acomodar a todos na sala de sua casa, em cujo quintal foi morto. Nas paredes caiadas de azul, Seu João mantinha os retratos pintados de seus pais, em molduras antigas e gastas, além de instrumentos rituais do povo: cocar, maracás e arcos e flechas.”
Também missionário do Cimi, Angelo Bueno, que conheceu Seu João em 1992, descreve-o como “uma pessoa discreta e fiel guerreiro do movimento indígena, ajudando nas ações de planejamento e avaliação da luta como também sempre foi um animador do Ritual, do Toré.”
Seu João é, pois, uma grande perda para os povos indígenas do Nordeste brasileiro e não só: para todos nós, seres humanos, seres com direitos e pelos direitos.