Luís Jorge Araújo tinha 56 anos quando, no dia 5 de Agosto de 2016, foi surpreendido por quatro homens armados na sua casa, no município de Wanderlândia, Tocantins. O agricultor defendia o direito à terra da comunidade de trabalhadores rurais sem-terra que integram o assentamento Boqueirão, uma fazenda cujas terras pertencem ao património da União.
Luís, gravemente ferido após os disparos dos atacantes, foi ainda transferido para o Hospital Regional de Araguaína (HR), onde, infelizmente, não conseguiu resistir e faleceu.
Como líder de uma luta, Luís deixou para trás muitos que o admiravam e cuja revolta pela sua morte se espelhou em protestos acesos. Integrantes do assentamento de Boqueirão bloquearam a TO-420, no trecho entre a BR-153 e o município de Piraquê, pegando fogo a pneus e galhos.
O sofrimento destes povos não é de agora. A luta por terra é uma realidade constante para muitos trabalhadores rurais no Brasil e, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), só em 2016, deu origem a 61 vítimas mortais no campo.
Dias 10 e 11 de Agosto desse ano, as mulheres indígenas dos povos Apinajé, Krahô, Xerente, Kanela do Tocantins, Karajá de Xambioá, juntamente com representantes das Quilombolas do Quilombo Dona Jucelina, do município de Muricilândia, reuniram-se para debater os ataques e as ameaças que se sentem constantemente nos seus territórios. No documento que divulgaram, escreveram: “Nós, mulheres indígenas e quilombolas, estamos unidas à dor e sofrimento da família do senhor Luís Jorge de Araújo, membro da comunidade Boqueirão no município de Wanderlândia, que foi morto pela cobiça e ambição do agronegócio. Repudiamos a morte dessa liderança e de todas as lideranças assassinadas que morreram na luta pela terra. Exigimos justiça e proteção da comunidade e que sejam punidos todos os culpados. Não vamos aceitar essas violências! Vamos continuar resistindo na defesa de nossos direitos e territórios.”
Luís Jorge Araújo será, para sempre, lembrado como um defensor dos direitos da comunidade a que pertenceu e, claro, dos direitos humanos. A luta, essa, continua.