Sobre

Fonte: Front Line Defenders

Márcio Rodrigues dos Reis foi um defensor do direito à terra e ajudou a reorganizar as terras ocupadas por trabalhadores/as sem-terra, onde ele morava, depois que o assentamento foi atacado e destruído por pistoleiros armados. As terras estão localizadas na fazenda Santa Maria, que é uma área de terras públicas confiscadas por um fazendeiro local do agronegócio. Como represália por sua liderança, Márcio ficou preso em 2017 por nove meses e novamente em 2018 por cinco meses, sob acusações falsas feitas pelo próprio fazendeiro de carregar uma arma sem permissão e de usurpar terras (conhecido como “esbulho”).

Fonte: CRUX

Reis era um trabalhador rural sem-terra e em 2016 havia participado da ocupação de uma fazenda em Anapu, junto a dezenas de famílias. Os/As ocupantes exigiam a posse do território e alegavam que ele havia sido ilegalmente retirado do Estado brasileiro por um fazendeiro local.

A agência governamental de terras reconheceu sua reivindicação e entrou com uma ação para recuperar a fazenda, mas ainda está pendente uma decisão final do tribunal superior. Depois que o movimento dos/as agricultores/as não mostrou sinais de fim, Reis foi acusado de vários crimes e preso por nove meses em 2017.

Anapu tem sido um dos epicentros da violência contra os/as pobres rurais na Amazônia nas últimas décadas e é a cidade onde a freira nascida nos Estados Unidos, Dorothy Stang, foi assassinada por pistoleiros que trabalhavam para fazendeiros locais, em 2005. Coordenador local da CPT, padre José Amaro Lopes de Sousa, foi acusado de ser o líder da ocupação e também foi preso por 92 dias no início de 2017. Amaro trabalhou por 15 anos com Stang na defesa do meio ambiente local e de agricultores/as sem-terra e é considerado seu sucessor.

“Reis foi a principal testemunha de defesa no caso contra o padre Amaro. Tanto os fazendeiros locais quanto a polícia o pressionaram a testemunhar contra o padre Amaro, para que ele fosse condenado. Mas Reis nunca fez isso e manteve sua versão inicial de que o padre Amaro é inocente”, disse José Batista Afonso, advogado do padre, que também é membro da CPT.

Segundo Afonso, as evidências reunidas pelos promotores contra Amaro são “fracas” e ele provavelmente será inocentado no primeiro semestre de 2020, quando uma decisão está prevista para ser anunciada. Se Reis tivesse mudado sua história por insistência da polícia e testemunhado contra Amaro, teria efetivamente silenciado o padre e acabado com seu trabalho na região, afirmou Afonso.

“É por isso que o odiavam tanto”, disse o advogado ao Crux.

Após sua libertação, Reis foi aconselhado a deixar Anapu por razões de segurança. Ele passou quase um ano fora da cidade, mas decidiu voltar há alguns meses, pois achava que não havia mais risco a sua vida.

Segundo a CPT, há uma organização criminosa na cidade de Anapu formada por fazendeiros locais que roubaram terras do Estado e contam com a cumplicidade da polícia.

O Assassinato

Fonte: Front Line Defenders & CRUX

Em 4 de dezembro de 2019, o defensor de direitos à terra Márcio Rodrigues dos Reis foi morto em uma estrada próxima a Anapu. Reis, 33 anos, trabalhava como mototáxi quando foi esfaqueado pelo passageiro no pescoço. O assassino não foi encontrado.

Ele foi a principal testemunha de defesa em um processo de criminalização contra o defensor de direitos humanos Padre Amaro. Márcio é o 15º trabalhador rural morto na área desde 2015.

Pouco depois, em 9 de dezembro de 2019, o vereador Paulo Anacleto também foi encontrado morto. O vereador participou ativamente das investigações sobre o assassinato de Márcio Rodrigues dos Reis.