Anísio Souza era membro da Associação dos Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar) e ativista pela conservação e pelos direitos das comunidades pesqueiras na Grande Rio de Janeiro. Ele fez campanhas por mais de 20 anos denunciando a poluição causada pelos terminais de petróleo e gás instalados na região de Magé e as restrições impostas por agentes públicos e privados ao direito dos pescadores artesanais de exercerem sua atividade.
Quando voltava do trabalho em 12 de março de 2020, Souza foi abordado no portão de sua casa por homens encapuzados que saíram de um veículo Onix prateado e dispararam várias vezes, matando-o instantaneamente. Anísio estava acompanhado de seu filho de seis anos.
O assassinato ocorreu cinco dias depois que outro integrante da Ahomar, Edilson Aderaldo Marques Filho, foi baleado com balas de borracha disparadas por patrulheiros da Marinha enquanto pescava na Baía de Guanabara, próximo a uma área restrita, perto de terminais de gás de empresas privadas.
Edilson sofreu ferimentos na cabeça e corre o risco de perder parte da visão.
Esses incidentes são apenas os mais recentes de uma longa lista de ameaças, violências e assassinatos cometidos contra integrantes da Ahomar e pescadores da Baixada Fluminense. Por se posicionarem como defensores ambientais e protetores da vida marinha, os pescadores artesanais da região tornaram-se um grupo vulnerável, sendo frequentemente alvo de forças de segurança privada e de agentes públicos.
No passado eles denunciaram casos de contaminação na Baía de Guanabara, como o causado pelo rompimento de um duto que liga a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) ao Terminal da Ilha d’Água, na Ilha do Governador, em 2000. O A ruptura causou derramamento de 1,3 milhão de litros de óleo combustível, destruiu manguezais e poluiu uma Área de Proteção Ambiental.
Os integrantes da Ahomar também fizeram campanha pelo fim da exploração de combustíveis fósseis nas regiões costeiras e protestaram contra o leilão de blocos petrolíferos que ameaçavam o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, em 2019.
O irmão de Anísio, Alexandre Anderson de Souza, presidente da Ahomar, sofreu várias ameaças e teve que ingressar no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do governo federal. Porém, quando Alexandre ligou para o Programa de Proteção após o assassinato do irmão, ele teve que esperar 9 horas por uma resposta. Dois membros da AHOMAR foram assassinados em 2012.