O líder da comunidade quilombola Barroso e diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Camumu, no sul da Bahia, Antônio Correia dos Santos foi assassinado em 8 de maio de 2020. Homens armados invadiram sua casa e dispararam três vezes contra ele. Antonio foi levado ao hospital, mas morreu no dia seguinte em decorrência dos ferimentos.
Desde 2014, a comunidade quilombola do Barroso está em conflito pela posse da terra com a comunidade do Varjão, formada por pequenos agricultores da região. O caso continua sem solução, apesar de várias queixas feitas aos órgãos do Estado sobre o aumento das tensões em relação ao uso e posse de uma área onde existe um moinho de farinha, uma horta e uma cozinha comunitária.
Antônio Correia vinha recebendo ameaças de morte e havia falado sobre isso em março de 2020, durante uma reunião da Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia e outros órgãos do governo, organizada para tratar da questão fundiária. Apesar de uma Ordem de Proteção ter sido emitida pela Justiça por causa de ameaças anteriores e do acirramento da violência na região, nada foi feito para protegê-lo.
Trinta dias após o assassinato, membros da comunidade publicaram uma carta aberta ao governador da Bahia exigindo a investigação do crime.
“Antônio Correia dos Santos era uma pessoa amigável, acolhedora, conselheira e justa. Sempre esteve presente na vida das pessoas de forma a favorecer o dialogo e o entendimento. Era uma pessoa estudiosa e que sempre estava atenta a ouvir e trocar informações. Contribuiu muito na formação de jovens e adultos na perspectiva do diálogo, da escuta e da troca. Uma pessoa de muito bom trato, paciente, pacifista mas que não abria mão de defender os direitos do seu povo. Era um grande líder ativo da agricultura familiar e da agroecologia, ecologista, sindicalista e Presidente da Associação Quilombola do Barroso, zona rural do município de Camamu na Bahia.
Ele foi uma das primeiras pessoas a acreditar no direito das comunidades quilombolas, a acreditar que a titulação coletiva protege e protegerá da expropriação e garantirá a permanência da vida quilombola. Era um homem de fé, acreditou na justiça, nas pessoas, mas principalmente tinha certeza da luta que travava: a luta pela permanência no território, a luta pela vida”
Apesar de o caso ter sido encaminhado para a Ouvidoria de Direitos Humanos, o Ministério Público Estadual e a Organização para o Desenvolvimento Rural, a investigação continua paralisada.