Em 18 de fevereiro de 2020, o advogado Fernando Ferreira da Rocha descansava na sua varanda em Boca do Acre, no Amazonas, quando dois homens armados entraram em sua casa e dispararam contra ele várias vezes, antes de fugir em uma motocicleta amarela Bros.
Fernando era um advogado criminalista e defendia os direitos das famílias camponesas e comunidades indígenas da região, que estão lutando para fazer valer a reivindicação das terras que ocupam. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que documenta a violência nas áreas rurais do Brasil, o assassinato teve todas as marcas de uma execução.
A invasão de terras públicas por grandes proprietários de terras e garimpeiros ilegais em detrimento de grupos indígenas e pequenos produtores levou à um número recorde de conflitos violentos nas áreas rurais e florestais do Brasil, especialmente na Amazônia. A CPT relata que 2020 foi o ano mais violento no interior do Brasil desde 1985, o ano em que a organização começou a monitorar conflitos de terra no país.
O Mapa Anual de Conflitos Rurais da CPT mostrou que, em 2020, houve 1.576 disputas de terra, 315 a mais do que em 2019, que havia sido o ano recorde até então. Mais de 40 por cento do total de casos envolveu povos indígenas.
Segundo o presidente do CPT, Bispo José Ionilton de Oliveira, de Itacoatiara, Amazonas, “o atual governo sinalizou desde a eleição de 2018 que favoreceria as invasões de terra, como está fazendo agora”.
Ativistas pelos direitos da terra. e os que os defendem, como Fernando, são rotineiramente perseguidos, ameaçados ou assassinados, crimes para os quais a impunidade é quase total.