Luis Ferreira da Costa

Na manhã de 18 de julho de 2019, o integrante do MST Luis Ferreira da Costa foi assassinado por um motorista de caminhonete enquanto protestava por acesso à água em Valinhos, São Paulo. Quatrocentos moradores do Acampamento Marielle Vive participaram do protesto, exigindo que as autoridades municipais concedam acesso a água, saúde e educação à sua comunidade, e distribuíram alimentos e panfletos aos carros que por ali passaram.

O Acampamento Marielle Vive foi criado por 700 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra desde abril de 2018 na Fazenda Eldorado Empreendimentos Ltda, uma fazenda improdutiva às margens da estrada Jequitiba. Atualmente, mais de 1000 famílias vivem e trabalham no Acampamento, que também conta com uma escola de alfabetização para adultos, grupos de direitos das mulheres e equipes de futebol masculino e feminino.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é o maior movimento social que pressiona pela reforma agrária no Brasil, para combater a alta concentração fundiária do país e as violações de direitos humanos a ela associadas. Os acampamentos e assentamentos organizados por trabalhadores rurais e defensores dos direitos humanos são caracterizados pela agricultura familiar sustentável e pela comercialização dos excedentes de produção, sendo muitas vezes responsáveis pelo fornecimento de grãos e hortaliças nas cidades vizinhas.

O modelo de agronegócio aplicado no Brasil tem promovido desigualdades, violações de direitos humanos e impactos ambientais adversos, colocando a biodiversidade em risco. Isso dificulta cada vez mais os esforços e a resistência de quem cria formas alternativas de viver e trabalhar na terra – como aquelas propostas pelo MST, reconhecidas em todo o continente. O MST está presente em 24 Estados das cinco regiões do país. Cerca de 350.000 famílias conseguiram acesso à terra através da luta e organização do movimento.

Durante o protesto em Valinhos, em 18 de julho de 2019, um homem dirigindo uma caminhonete Mitsubishi L200 desrespeitou o bloqueio da estrada, na contramão e em alta velocidade, em direção aos manifestantes, assassinando Luis Ferreira da Costa, de 72 anos, e ferindo um jornalista e três outros indivíduos. Luis Ferreira da Costa morreu a caminho de uma unidade de assistência médica. Após o ataque, o motorista mostrou aos manifestantes que trazia uma arma de fogo e fugiu. Testemunhas disseram que o motorista e o passageiro afirmaram que “atropelariam” os manifestantes. Horas depois, a Polícia Civil conseguiu identificar e prender o motorista.

Em 20 de julho de 2019, integrantes do MST se reuniram em Valinhos para protestar contra a violência rural e a campanha de difamação contra o movimento. Através do protesto, buscou-se chamar a atenção para a crescente intimidação e criminalização contra movimentos populares no Brasil, que vêm sendo traduzidos em políticas públicas.

O presidente do Conselho de Direitos Humanos do Estado de São Paulo (Condepe) afirmou que a investigação decorrente do ataque deve levar em conta o contexto de discursos de ódio e violência institucional contra movimentos sociais, e que esse crime é “a expressão de uma política de morte”.

Desde a campanha do presidente Jair Bolsonaro e sua posterior eleição em 2018, uma série de declarações públicas foram feitas por ele contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, incluindo que o grupo era composto de terroristas que deveriam ser “tratados com balas”. Ele também tem sido responsável por promover políticas que incitam à violência e à impunidade, como a flexibilização das leis de armas de fogo do país e o desmantelamento das instituições de direitos humanos e de reforma agrária.

Tais medidas e declarações legitimam aqueles que agem violentamente contra integrantes do MST, como demonstrado pelo ataque de 18 de julho.

Fonte: Front Line Defenders


Se quiser enviar uma recordação pessoal, favor nos enviar por e-mail: HRDMemorial@frontlinedefenders.org

Região:Américas

País:Brasil

Departamento/Província/Estado:São Paulo

Gênero1:Masculino

Idade:72

Data da morte:18/07/2019

Ameaças Anteriores:Nenhuma Informação

Tipo de trabalho:Manifestante

Organização:Movement of Landless Rural Workers

Setor ou Tipo de Direitos que o/a DDH trabalhava:Direitos ESC

Detalhes do Setor:Direito à Saúde, Direito à terra, Direitos laborais

Maiores informações:Front Line Defenders

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